quarta-feira, 20 de abril de 2011

5° ETAPA DE DESTILAÇÃO

A FÓRMULA DO AMOR

"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal "

F. N.
Do Simulacro:


Noite passada, ele sonhara com ela um sonho sem começo, ou antes, um sonho cujo começo era o começo do começo: um re-começo. Uma origem na qual nada poderia se originar. Pela primeira e última vez, o sol tinha sonhado com a lua. Essa origem era uma repetição anterior à própria repetição, um recomeço que antecede o começo, uma duplicação que se antecipa ao duplicado. Pois, o recomeço antes do começo não é, senão, a própria imagem em branco, o nada, o vazio absoluto; a ausência de sentido que, em virtude do “movimento” de repetição, é alçada à condição de presença: Amnésia. Noite passada, essa presença era ausência. Havia, também, bastante erotismo no sonho, funcionando como linguagem transgressiva e a-moral. Disse a poeta Clara Góes, num poema breve, "Quero você língua com língua sem linguagem". Sem linguagem? Que AMORalidade! Nesse sonho, as imagens a-fundavam tudo aquilo que a linguagem inventara: Deus, verdade, natureza, subjetividade, certo ou errado, bem ou mal etc.. Foi o primeiro e o último sonho do sol com a lua, um sonho, um esquecimento, uma criação, onde eles repetiam o vazio e alcançavam a plenitude...



A Fórmula do Amor
s = x + y(n – 1)



•    S = o simulacro.

•    X = o desconhecido, porque está sempre em construção (devir).

•    Y = o indizível (o que transborda a linguagem, uma não-linguagem).

•    [n – 1] = o termo da multiplicidade (a relação).




Em outras palavras, o simulacro é igual a soma do desconhecido (alteridade) com o indizível - ou affectus - (sentimento que não é representativo), vezes o termo da multiplicidade (que é o conjunto de individuações sem sujeito, uma postura que sempre subtrai a unidade, o universal, o verbo Ser, o significante etc..). Quem resolver essa equação, vai obter um bom encontro. Se, por um acaso, minha fómula não der certo, já que nem eu mesmo entendo, quem sabe, a de Cairo Trindade, "Terpar pra trepar", ou a de Eduardo Kac, "para curar um amor platônico só uma trepada homérica", funcionem melhor. Sinceramente, talvez, prefira as fórmulas Leminskianas:


"O amor, esse sufoco
agora há pouco era muito,
agora, apenas um sopro
Ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
e socos."


e


"Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."